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Biologia Subterrânea

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Conseqüências ecológicas e ambientais de eventos pretéritos e futuros - Vale do rio Peruaçu

Barramentos naturais no vale do rio Peruaçu: conseqüências ecológicas e ambientais de eventos pretéritos e futuros.

Assembleias fósseis encontradas em cavernas arquivam importantes informações ambientais quanto o passado recente da área às quais se associam. No cânion cárstico do vale do Rio Peruaçu, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais, depósitos orgânicos sugerem a ocorrência de grandes enchentes decorrentes de barramentos naturais no leito do rio. Esta dissertação procurou investigar a assembleia fóssil presente, principalmente, na Lapa do Carlúcio e delinear os eventos de importação e deposição do material. Pretendeu-se compreender as consequências ecológicas e ambientais de barramentos naturais no vale do Rio Peruaçu com base na análise de eventos pretéritos, prevendo o efeito de ocorrências futuras. Para tal, toda a assembleia fóssil encontrada na Lapa do Carlúcio foi inventariada e mapeada. Ocorrências representativas foram topografadas em relação ao nível do Rio Peruaçu, medido em julho de 2007 e três amostras foram datadas, utilizando as técnicas carbono 14 nos restos e séries de urânio, em capas calcíticas que recobriam duas destas peças. Com programas de geoprocessamento, o nível máximo de deposição encontrado foi representado no relevo atual tendo como eixo de barramento as Lapas do Brejal, Arco do André e do Janelão interpretadas como ambientes mais favoráveis ao colapso. Bases de uso do solo, fitogeografia e infra-estrutura balizaram a interpretação do alcance de eventos futuros em áreas naturais e antropizadas do Parque. Encontrou-se um total de 1.479 ocorrências de subfósseis na Lapa do Carlúcio sendo a grande maioria relativas a conchas de moluscos terrestres das famílias Megalobulimidae e Bulimulidae. Foi catalogada a ocorrência de 20 ossos, 57 sítios de deposição de vegetais, 4 carvões, um coquinho e um sabugo de milho. As idades encontradas foram de 1.630 +/- 50 anos BP para uma amostra de tronco, de 3.050 +/- 50 anos BP para uma concha de Megalobulimus e de 1.758,47 +/- 430,5 anos BP para a calcita que a revestia e de 9.380 +/- 40 anos BP para outra concha de Megalobulimus e de 8.108,48 +/- 49,0 anos BP para sua cobertura calcítica. Essas idades sugerem a ocorrência de pelo menos dois eventos de importação de material para a Lapa do Carlúcio. O alcance mínimo de inundações de 19,6 metros acima da drenagem, encontrado para a ocorrência máxima de fósseis na Lapa do Carlúcio, foi extrapolado para o relevo das áreas à montante das lapas do Brejal, Arco do André e do Janelão. No caso desses futuros barramentos, a perda de áreas atingiria, essencialmente, a vegetação primária das formações Comunidade Aluvial Arbórea, Floresta Estacional Decidual e Savana Arborizada Fechada. Infraestruturas direcionadas ao uso público, pesquisa, controle e gestão da unidade de conservação como estradas, trilhas e centro de apoio seriam igualmente afetados. Os resultados permitiram gerar subsídios à previsão de impactos de barramentos ao longo do Rio Peruaçu, área cuja propensão natural a abatimentos tem sido ultimamente agravada pela ocorrência de tremores de terra.

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